Galeria: Marcha pela Palestina
- vetormagazine
- 23 de set.
- 2 min de leitura
Fotografia e texto por Larissa Larsen

Berlim — 21 de junho de 2025
Eu estava em frente ao Reichstag com minha câmera, cercada por mais de 50 mil pessoas — um dos maiores protestos pró-Palestina que a Alemanha viu em anos. A energia era avassaladora. Gente de todos os lugares — Berlim, outras cidades da Alemanha, até de fora do país — com cartazes, keffiyehs, tambores e um profundo senso de urgência. A mensagem era clara: parem o massacre em Gaza. Justiça, liberdade e dignidade para os palestinos — não amanhã, agora.
Como brasileira vivendo em Berlim, é difícil não sentir o peso da história sobre este lugar. O Reichstag é um símbolo da democracia alemã reconstruída após o horror. Mas o que aconteceu naquele dia — não só o protesto, mas a resposta do Estado — pareceu uma traição aos próprios valores que essa democracia diz defender. Nos últimos meses, a Alemanha baniu organizações palestinas, invadiu espaços culturais e impediu encontros pacíficos — tudo em nome da segurança, do combate ao discurso de ódio, da ordem pública. Mas quando você está na rua, sente diferente. Sente como o Estado escolhe quais vozes podem ser ouvidas.
Há aqui uma contradição difícil de ignorar. A identidade nacional da Alemanha é construída sobre a memória do Holocausto — “nunca mais”, dizem. Mas ver o governo não apenas fechar os olhos para Gaza, mas apoiar ativamente o próprio Estado que comete essa devastação — com acordos de armas, proteção diplomática e silêncio onde deveria haver indignação — dá a sensação de que o “nunca mais” virou “nunca mais para alguns, não para todos”.
Enquanto eu fotografava o protesto — cartazes que gritavam dor, rostos iluminados pela fúria, crianças marchando com seus pais — eu só pensava: isso é democracia. Dissentir, resistir, se recusar a desviar o olhar. Mas na Alemanha de hoje, esse tipo de expressão parece ser tratado como ameaça, não como direito. Voltei para casa naquela noite com o cartão de memória cheio e o coração pesado. As imagens que fiz — não são neutras. Elas carregam uma exigência: que os que estão no poder sejam responsabilizados pelo que apoiam, e que o “nunca mais” signifique nunca mais para todos.
Palestina será livre.










