top of page

Vetor Entrevista: Candy Mel

Candy Mel é “pura mistura” em primeiro álbum solo, “Cinco Estrelas”: Conhecida como vocalista da Banda Uó, Candy Mel dança por muitos ritmos em seu disco de estreia como artista solo, mas, sempre com a mentalidade de uma veterana na música


Text and interview by Pedro Paulo Furlan

ree

Photography by Ivan Erick


São Paulo, 13h. Quando sento para conversar com Candy Mel, é impossível não pensar sobre toda a extensão de sua carreira até chegar aqui: seu primeiro álbum solo, “Cinco Estrelas”. Desde sua estreia em 2010, com a Banda Uó, até sua estreia solo com o single “A Partir de Hoje”, em 2020, Mel tem sido uma peça fundamental da música brasileira.


A empolgação é tanta, que conto para ela a história de como a conheci rapidamente no início de 2020, ainda pré-pandemia, no show de lançamento do primeiro EP da Urias. Após minha curta, mas significativa, narrativa sobre esse encontro regado a elogios, Mel ri e faz um comentário que dá pistas sobre a nossa conversa: “Quando ouço essas histórias, acho que até eu mesma fico tentando descobrir o que que tem em mim que agrada as pessoas”.


A verdade é que, mesmo com uma carreira de 15 anos, 2025 é um marco inegável para Candy Mel com o lançamento desse que é seu álbum de estreia solo - e, com ele, ela está andando por um território até agora desconhecido. “Tudo fica na nossa mão”, ela responde quando pergunto sobre seus sentimentos durante o processo: “Aquilo que gostam e aquilo que não gostam, aquilo que é bom, aquilo que não é tão bom assim, tudo”.


ree

Photography by Ivan Erick


“Mesmo assim, foi um desafio gostoso. Acho que esse reencontro com a Banda Uó e essa turnê, foi algo que me despertou novamente, me voltou para o centro do palco, né?”, continua Candy Mel. Durante essa tour de um ano, a artista projetou e deu os toques finais nesse disco que já estava preparado e utilizou esse empurrão como incentivo para o lançamento.


“Esse é um álbum que fala sobre liberdade, então trouxe exatamente isso. Não queria mais perder tempo, não queria mais deixar as pessoas esperando e eu também não queria esperar mais”.


“Sou pura mistura. Sou feita de açúcar e sal”


Como Mel canta nesse verso, tirado da música “Açúcar e Sal” com Jup do Bairro, a persona da artista apresenta-se, em “Cinco Estrelas”, como uma mistura. Contando a história de suas raízes em Goiás e sua mudança para São Paulo, tudo com uma base sólida de brega, Candy Mel me conta que a pluralidade de sons foi também uma maneira de mostrar ao mundo que ela pode tudo.


“Essa pluralidade vem de ser também o meu primeiro álbum, né? A título de mostrar todas as variedades que me cabem”, ela explica, apontando que buscou acrescentar todos os sons que cruzaram sua história como cantora.


ree

Photography by Ivan Erick


“Mas, obviamente com a centralidade do brega, né? Que é uma coisa que faz parte da minha vida e da minha carreira, que me construiu, que me trouxe até aqui”.


Um aspecto perceptível do novo álbum é a franqueza de Mel nas composições, muitas vezes diretas e sentimentais. Cantando sobre prazer e amor, decepções amorosas, amor próprio, sexualidade e espiritualidade, o leque de assuntos é tão amplo quanto o de sons, mas, sempre a declamação é honesta: “Soa sincero, não é nada que eu estou contando de um dinheiro que eu não tenho, de uma vida que eu não que eu não levo, de um luxo que ainda não chegou para mim”.


Algo que eu aponto enquanto falamos sobre isso, é a diferença entre essa vibe e o humor que era o centro das letras da Banda Uó, grupo que participou ao lado de Mateus Carrilho e Davi Sabbag. Sobre isso, Mel diz que a grande diferença “é só uma maturidade, um despertar para si mesma, um despertar para para as nossas próprias potencialidades, né?”.


“A Banda Uó é divertida, é alegre, é alto-astral, tem um momento às vezes de emoção, mas sempre tem esse humor. E eu não, eu tenho a licença de poder ser mais dramática, se eu quiser”.


ree

Photography by Ivan Erick


“Feito em família”


Com quatro parcerias - “todos eles são estrelas, e eu entro como a quinta estrela” - o novo álbum de Candy Mel é, como ela mesma diz, um disco “feito em família”. Seja com os produtores Fejuca e Nave, ou com os feats de Rico Dalasam, Jup do Bairro, Liniker e Mc Tha, o relacionamento próximo de Mel com esses artistas interpreta o papel protagonista.


Sobre sua conexão com Dalasam, por exemplo, Mel afirma: “A primeira vez que eu trancei meu cabelo foi com o Rico. Ele me deu todo o apoio para entender toda a minha identidade e beleza enquanto mulher negra, algo que foi completamente apagado durante muito tempo da minha vida”.


Caminhando lado a lado com esse afeto, que permeia todo o álbum, a artista também pinta uma narrativa sobre suas comunidades e recortes. “‘Cinco Estrelas’  começa com o que eu quero e termina com o que eu tenho”, ela explica: “Acho que é algo que nós enquanto travestis esquecemos, justo porque a gente enfrenta tanta coisa. A gente acaba esquecendo essas pequenas liberdades até pouco tempo atrás eram negadas para a gente, né?”.


ree

Photography by Ivan Erick


Finalizando nosso papo, Mel conecta isso à existência de uma cena musical LGBTQ+ e a presença disso em sua carreira, a qual ela agradece muito, mas, a qual ela não se limita. “É extremamente extremamente importante que a gente tenha uma cena forte, né? Mas, precisa ser uma força de impulso dentro da nossa comunidade, para que a gente seja ouvida por pessoas que não são necessariamente partes dessa cena”, Candy Mel afirma.


“Essa cena é como um trampolim, algo que leve nossos artistas ainda mais para frente, para finalmente em algum momento da história se torne completamente natural ser o que se é, fazer o que se faz e seja apenas uma escolha mesmo assim do que quero ouvir, sabe?”.


ree

Photography by Ivan Erick


Na sexta (3), Mel se apresenta no Sesc Pompeia, no show de estreia de “Cinco Estrelas”.

Quando? 3/10 (Sexta), 21h;

Onde? Sesc Pompeia, R. Clélia, 93 - Água Branca, São Paulo - SP;



 
 
bottom of page