Vetor Entrevista: Fortunato
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Fortunato ‘abrasileira’ o dubstep em álbum de estreia “Grave Matriz”: Produtor paulista junta suas experiências de vida em diversas cenas da eletrônica, com seu apreço pela cultura latina em disco com diversas parcerias marcantes
Enrevista por Pedro Paulo Furlan

Fotografia por Higor Vinicius Barba
São Paulo, 10h. O lançamento do álbum de estreia é um “desafio que todo produtor musical quer ter e realizar em algum momento”, aponta Fortunato à Vetor Magazine. Nascide em Araraquara, no interior de São Paulo, e morando há dois anos na metrópole, Fortunato lançou seu primeiro disco “Grave Matriz” em outubro, via Tandera Records, uma das labels de maior destaque na cena underground brasileira.
“Era um sonho que eu tinha”, afirma, quando pergunto sobre a inspiração para esse projeto: “Sempre quis fazer algo que tivesse conceito, da hora de escolher os nomes, a determinar uma estética, até a produção das músicas mesmo - é um marco para mim.”
Com oito faixas e participações de Alírio, Entrañas, EVEHIVE e Capetini, amigues pessoais de Fortunato, “Grave Matriz” é uma apresentação total da pesquisa sonora delu. Mesclando diversos âmbitos tanto da música eletrônica quanto da música latina, o primeiro álbum de Fortunato “tem muito do meu coração e da minha bagagem.”
Fortunato traz “a bateria completa tocando”

Fotografia por Higor Vinicius Barba
Ao longo das oito faixas de “Grave Matriz”, Fortunato aproveita para reforçar a mensagem da Tandera como gravadora - a criação de música brasileira sem se apoiar no esperado ou nos estereótipos. Com samba, merengue e dembow sendo as sonoridades latinas, e dub, bass music e club as vertentes da eletrônica mais “clássica”, Fortunato desenvolve um projeto que não é nem um, nem outro, mas, sim, tudo ao mesmo tempo.
“Em duas faixas, tem a bateria completa de uma escola de samba tocando”, explica elu, continuando: “O ritmo e o groove dialogam mais do que esperamos com o nosso universo clubber. Mesma coisa com o merengue e as linhas de baixo - dá um molejo todo especial.”
Uma das perguntas que fiz para Fortunato, em relação a esse ‘abrasileiramento’ de ritmos eletrônicos mais tradicionais, foi qual o aspecto mais brasileiro do álbum. Mesmo com ritmos brasileiros trançados no cerne do projeto, “Grave Matriz” se apresenta como um projeto inovador, que representa nossa cultura sem basear-se em estereótipos.
“O brasileiro sempre cria sua versão de algo que está rolando no mundo, tipo a pizza, a comida japonesa”, brinca Fortunato, apontando: “‘Grave Matriz’ pega um pouco da galera mundial da bass music e junta com o meu próprio temperinho.”
“A colaboração está na base do meu trabalho”
Vindo do interior, Fortunato credita sua infância fora da cidade por sua “calma”, como explica. Com BPM’s mais lentos e ritmos mais suaves, “Grave Matriz”, na visão de Fortunato, traz toda sua bagagem tendo crescido no interior, unindo ela com suas experiências na cena paulistana.

Fotografia por Yury Oliveira
“Essa calma, meu jeito mais tranquilo e suave de ver a música e a vida, trago do interior. Cresci frequentando outros tipos de rolês, down tempo, voodoo hop, tudo isso traz para mim um outro olhar, uma outra sensibilidade.”
Para além de suas experiências de vida, no entanto, o que faz ”Grave Matriz” ser um projeto tão único são suas colaborações e a maneira como Fortunato consegue se mesclar harmonicamente com a identidade sonora de outros artistas.

Fotografia por Higor Vinicius Barba
Ao lado de EVEHIVE, Alírio, Capetini e o equatoriano Entranãs, Fortunato constrói uma sonoridade quase psicodélica, unindo seu dubstep com as pesquisas desses outros artistas - titãs na cena underground. Para elu, essas colaborações explicitam o coração pulsante de seu álbum de estreia.
“Tudo que eu aprendi sobre produção foi com amigues”, elu conta, finalizando nossa conversa: “A colaboração está bem na base do meu trabalho, bem no coração, porque eu tudo que eu sei, eu aprendi graças a alguém e eu gosto muito de compartilhar.”


