top of page

Vetor Entrevista: IDLIBRA

Em “Contracurra”, IDLIBRA foge do tradicional e abraça sua identidade: Apresentando sua visão única do ambiente urbano, Libra entrega seis faixas que desafiam as perspectivas tradicionalista do que é Recife, do que é pop e do que é música eletrônica.


Entrevista por Pedro Paulo Furlan

ree

Fotografia por UHGO

,

São Paulo/Recife. Há exatamente um mês, a produtora e DJ recifense IDLIBRA lançou seu mais novo EP - intitulado “Contracurra”. Quando sento para conversar com Libra, um de nossos primeiros tópicos é justamente esse título, que abrange por completo o significado desse projeto.


“Nesse EP, eu queria focar na musicalidade da rua”, começa ela, apontando o conceito geral do disco: “É um projeto de rua, trazendo a eletrônica, o hip-hop, o grime, a ballroom, e conectando minha arte com esses movimentos e coletividades."


Trazendo essa realidade urbana para sua música - que já apresenta uma Recife sem os estereótipos - a artista explica o EP como uma defesa da “curra”. “Não sei se vocês usam ‘curra’ em São Paulo”, afirma: “Mas, ‘curra’ é tipo quando você tá andando na rua e um macho grita com você, fala alguma coisa, você levou uma curra dele, isso rola principalmente com pessoas trans e LGBT’s."


“Quando eu penso em minha vivência com a cidade, o que eu mais me lembro são as curras que eu levo, então, esse EP é a minha grande tecnologia contra a curra, meu super poder”.


Contando com parcerias de Evylin, BADSISTA e Tremsete, “Contracurra" chega como uma exposição de diferentes visões sobre a rua, sobre a cidade e sobre nossa vivência em coletivo. Enraizado na experimentação, o novo EP de IDLIBRA expõe e molda a carreira desta que já se consolidou como um dos maiores nomes da música eletrônica brasileira.


“Mancha” no tradicionalismo

ree

Fotografia por UHGO


Libra inspirou-se em Recife para construir seu novo projeto - mas, faz questão de explicar que queria mostrar um lado diferente da capital pernambucana. “Recife já foi contada por muitas pessoas, né? E eu estava cansada do que eu estava ouvindo sobre isso; parecia sempre a mesma coisa”,diz ela.


“Por isso, eu insisto nessa relação com a cidade, ela fala comigo em um local diferente, longe do tradicionalismo”, Libra me explica. Em “Contracurra”, a artista foge do estereótipo tropicalista da música brasileira, apresentando um EP em que a cidade de concreto e ferro aparece como personagem principal, e a mensagem se torna como encontrar comunidade nesse local.


“Em relação a Recife, a lugares que tem uma cultura tradicional muito forte, meu tipo de música e tudo que é contemporâneo demais quase que mancha essa esse tradicionalismo."


Falando sobre a rapper Tremsete, que foi a primeira parceria a ser desenvolvida, Libra conta que “precisava que ‘Acelerá’ fosse a minha cara e a cara dela também”, e foi criando uma conexão com ela que descobriu que compartilhavam visões similares sobre Recife.


“A verdade é que fiz esse beat para Tremsete, nem necessariamente para mandar para ela, mas, quando terminei, precisava ter ela nesse feat”, ela conta: “E foi ao longo desse processo que percebi que eu conseguia contar uma história que fazia sentido para ela e para mim de duas perspectivas de corpos diferentes, de gerações diferentes.”


Com metade das faixas contendo vocais, o EP de IDLIBRA é diferente do que se esperaria de um projeto eletrônico, até puxando para uma sonoridade que vive entre o pop, o hiphop e a música eletrônica.

ree

Fotografia por UHGO


“Acho que pop não é algo que é um objetivo, sabe? Tudo que é pop na contemporaneidade é uma consequência.”


Com essa nova perspectiva, Libra aponta que “Contracurra” também é um projeto para alcançar públicos para além da pista de dança, abrindo novos caminhos para si mesma como artista. “Para mim, pensar sobre voz é pensar sobre outras maneiras de instrumentalizar o meu corpo, de encontrar outras formas para que a música continue evoluindo”, afirma ela.


“Sou uma pessoa sobrevivente do underground”


Nos últimos anos, Libra conseguiu tomar um espaço cada vez maior na cena eletrônica mundial, já tendo saído do país diversas vezes para tocar e alcançando diversos de seus sonhos e conquistas. “Por exemplo, tenho muito orgulho desse EP, porque grande parte dos synths, batidas e melodias, eu fiz a mão”, ela conta, destacando só um sample fundamental.



“Em 'Rara’, a primeira música, utilizei de um sample de uma música do Luiz Melodia chamada ‘Pérola Negra’”, Libra relata, afirmando que, além de seu gosto pela faixa, o sample também é importanto pelo significado que ele carrega: “Tem toda uma história curiosa porque essa música, na real, ele fez para uma travesti do Rio de Janeiro nos anos 80”.


“E eu sou uma pessoa trans, sobrevivente do underground, sabe? Foi até desse sentimento que veio a mensagem central do EP”, a artista acrescenta: “Até mesmo na capa, ‘Contracurra’ é sobre conseguir fundir-se ao concreto, à cidade, entender que, como pessoa não-normativa, eu domino esses aspectos, e posso usá-los para fugir da curra”.


ree

Fotografia por UHGO


Lançado após um dos maiores anúncios de sua carreira - seu nome no lineup do Lollapalooza 2026 - o EP também marca uma identidade forte e única para a sonoridade de Libra.

Quando estamos finalizando nossa conversa, voltamos ao assunto do que significa para ela, como artista do underground, estar tomando espaço no maior festival do Brasil. “Foi uma grande conquista, uma das coisas do meu trabalho que eu nunca imaginei acontecer”, ela começa. 


“Mas, ao mesmo tempo, estou tentando fazer com que seja mais um mais um dia do meu trabalho. Existe um perigo de chegar num palco muito grande e querer pular cinco degraus”, ela reflete, finalizando: “Acho que o palco grande é o momento de você mostrar tudo que é seu, que tá mais maduro e pronto e que foi feito por tanto tempo e te conquistou aquele espaço”.

 
 
bottom of page