Vetor Entrevista: Votú
- vetormagazine
- 10 de jul.
- 2 min de leitura
Votú lança EP que funde experimentalismo queer, natureza e pista de dança
Texto por Guilherme Higashizima

Capa por Julia Capanema
O artista queer e experimental Votú lançou recentemente seu novo EP com 4 faixas explosivas. O projeto mergulha em funk, hyperpop, queer club, EDM e psytrance, entregando um trabalho energético, sombrio e provocativo — feito para as pistas e festas dissidentes.
Com uma estética que desafia categorizações, Votú constrói uma música que é ao mesmo tempo instintiva, transcendental e profundamente vinculada à terra. Suas composições trazem uma fusão única entre o sintético e o natural.
Entrevista com Votú
Sua identidade sonora transita por muitos estilos e texturas. Você sente que ela está em constante transformação? Como você descreveria o som do Votú hoje, nesse momento da sua trajetória?
Sim, completamente. Meu som está sempre em fluxo, assim como eu. Acho que essa transformação constante faz parte da minha própria vivência enquanto pessoa queer e artista ligado à natureza — nada é fixo, tudo pulsa, muda, respira. Hoje, o som do Votú se enraíza mais no experimental, misturando elementos do contemporary club, ambiências orgânicas e timbres inspirados na paisagem sonora do cerrado mineiro. É uma música que busca o sensorial, o instintivo e, ao mesmo tempo, uma certa transcendência vibracional.
Quais foram as principais referências — sonoras, visuais ou conceituais — que te inspiraram na criação desse EP? E como foi o processo de dar forma a essas ideias até chegar nas quatro faixas finais?
Minhas maiores referências vêm da própria terra: o som dos insetos, o vento nos galhos tortos do cerrado, o silêncio carregado das montanhas. Eu também me inspirei muito em ideias ligadas ao misticismo, ao biológico e à expansão da consciência — como se cada faixa fosse um organismo vivo. Usei sintetizadores como o Synplant, que me permitem criar sons mais "vegetais", mais orgânicos. O processo foi muito intuitivo, mas também teve uma escuta atenta: fui moldando as texturas como quem cuida de uma planta, respeitando os ciclos. As quatro faixas finais refletem essa gestação lenta, densa e viva.
A cena queer eletrônica brasileira — especialmente a underground — tem ganhado mais visibilidade nos últimos anos. Como você enxerga seu papel dentro desse movimento? E na sua visão, o que ainda falta para que essa cena cresça sem perder sua essência dissidente?
Me vejo como parte de um ecossistema maior — cada artista queer que insiste em criar, em se mostrar, em ocupar espaço, está semeando resistência. Meu papel é esse: trazer outras possibilidades de sensibilidade, de corpo e de escuta, principalmente vindas de um lugar fora do eixo, como Minas. A cena queer eletrônica precisa continuar sendo lugar de invenção, não de encaixe. Pra crescer sem perder a essência, acho que a gente precisa de mais autonomia, mais redes de afeto, e de estruturas que fortaleçam o que é experimental e comunitário — e não só o que é palatável ou capitalizável.
Com esse lançamento, Votú reafirma sua presença como uma das vozes mais originais e potentes da cena queer eletrônica nacional. Um som que desafia padrões, celebra a diferença e propõe novas formas de estar no mundo — dançando e resistindo.


