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Vetor Entrevista: Wavezim

Wavezim traz o “kalor” de Fortaleza em seu primeiro álbum autoral: Acabando de completar dois meses, o primeiro projeto do cearense Wavezim é uma homenagem à capital do Ceará e à sua noite fluorescente


Texto e entrevista por Pedro Paulo Furlan


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Fotografia por Jonas


São Paulo, 18h. Se você ainda não conhece Wavezim, não se preocupe, que logo mais você sem dúvidas conhecerá. A palavra chave nessa frase é “ainda”, porque o produtor cearense Oni Braga já mostrou que está aqui para ficar, especialmente com seu novo disco “Kalor”, de julho deste ano.


Nascido em Pacajus, no interior do Ceará, iniciado na discotecagem quando morou em Fortaleza e, desde janeiro, habitante da selva de pedra São Paulo, Wavezim trouxe a cena fortalezense para o Brasil inteiro no seu projeto, lançado pela Bicuda Records. Quando sento para conversar com ele, o produtor deixa explícita essa homenagem.


“É um álbum inspirado na na cidade de Fortaleza e é um um álbum dedicado à cidade de Fortaleza", explica Wavezim sobre “Kalor”, acrescentando: “Lançar em São Paulo foi uma maneira de trazer para cá esse carimbo cearense, nossa identidade tropical e calorosa”.


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Fotografia por Jonas


Meses após seu estabelecimento em São Paulo, casa da maior cena underground do país, Wavezim não pretende soltar a mão de suas raízes sonoras - e, ainda menos, da cena onde cresceu. Parte do coletivo Bateu, um dos maiores nomes da música eletrônica de Fortaleza, a expansão de Wavezim também vem com uma promessa de uma dominação total fortalezense.


O ‘Kalor’ da música eletrônica cearense


A música sempre foi parte da vida de Wavezim, desde seu avô, fã de Nelson Gonçalves, até os CDs e DVDs piratas que sua mãe sempre comprava quando ele era criança. E com esse amor pela música em si, veio o amor pela curadoria e pelo trabalho de DJ, mesmo que ele ainda não percebesse.


“Quando eu reflito sobre quando eu comecei a discotecar, lembro que eu brincava que tinha uma rádio e pegava esses DVDs e ficava marcando com caneta atrás das músicas que eu mais gostava”.


Dançarino na adolescência, Wavezim desenvolveu uma conexão ainda maior com a música - me contando sobre esse momento, o artista relata: “Com uns 16 anos, eu e meus amigos íamos para a casa um do outro e, enquanto cinco dançavam, um ficava responsável pela playlist”. Essa criação de playlists evoluiu para discotecagem em seu formato total quando um deles comprou uma CDJ.


Relembrando de viagens para a praia levando a controladora, Wavezim diz que fez seus primeiros sets mesmo naquela época: “a brincadeira era ser DJ, discotecar só pra gente”. Mas, foi só quando se mudou para Fortaleza que começou a levar a sério a ideia de construir uma carreira na noite - especialmente depois de assistir um set do BADSISTA.


Segundo Wavezim, esse foi o momento em que “minha mente mudou” e foi quando ele se apaixonou não só pela discotecagem, mas, também pela criação de música mais voltada para as boates e pistas de dança da cena emergente de Fortaleza. “Comecei a tocar em Fortaleza e a tentar produzir sons que eu percebia que que faziam diferença na noite”, ele me diz.


Foi durante essa autoexploração que ele conheceu o coletivo Bateu. Parte desse movimento, que atualmente completa 9 anos de atuação, Wavezim conta que os organizadores se aproximaram dele por verem seu potencial e por admirarem seu trabalho como produtor para além de DJ.


Refletindo sobre a cena de Fortaleza, o produtor a coloca em contraste com a paulistana. Apontando como a noite de São Paulo é dividida em nichos, cada um com seu público, Wavezim afirma que a fortalezense é formada por uma galera só: “Quem é do techno também frequenta o rolê do funk, quem é do funk também frequenta o rolê do techno, porque todo mundo é da mesma galera", afirma ele, acrescentando: “E foi a Bateu que juntou várias tribos da cidade, a galera do techno, a galera do funk, a galera do do reggae”.


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Fotografia por Jonas


No início desse ano, o artista percebeu que era seu momento de mudar-se para São Paulo, e, levando toda sua bagagem da cena fortalezense - além de um álbum quase completo, que se tornaria “Kalor”, Wavezim continua sempre a homenagear a cidade com sua música.


“O álbum é como se fosse uma pista de uma noite de Fortaleza. Ele passa por vários gêneros, mas tem sempre uma conexão. 'Kalor’ engloba todas as vibes, todas as pistas que tem na cidade”.


Trazendo o 'Kalor’ para o underground nacional


Lançado em julho desse ano, o novo disco de Wavezim traz suas diversas inspirações na música eletrônica, passando por techno 4x4, drum and bass, breakbeat, funk e diversos ritmos latinos. Para o produtor, o disco é “como se fosse um quebra-cabeça" - me contando sobre o processo de criação, ele aponta: “Foi montando que eu fui construindo a imagem completa, tipo, deixa eu pegar essa esse timbre daqui, esse loop de percussão dali e isso acaba sendo algo totalmente diferente”.


“Kalor” nasceu com a faixa “BOOM BATUQUE”, presente no VA “Pregação", da Mamba Negra. Afirmando que “ali foi o começo da minha pesquisa pro álbum”, Wavezim afirma que foi quando decidiu trazer sonoridades e elementos mais orgânicos - e estender a mão para colaboradores.



Com participações de DJ co.kr, Clementaum e Mia Badgyal, o produtor me conta que o processo com cada um deles foi diferente. Enquanto co.kr incrementou e intensificou a ideia do techno de Wavezim em “KALOR”, Clementaum deixou “TORMENTA” mais pra pista mesmo”, com um novo arranjo, e Mia Badgyal escreveu letras autorais e trouxe o eurodance para “BLMM”, sigla de “Bitches Love My Makeup".


Para Wavezim, esse foi o projeto perfeito para introduzi-lo na cena nacional e também para alimentar o seu público mais fiel: a comunidade queer e underground. Finalizando nosso papo, o artista reflete sobre sua carreira e seu público atual - apontando que a presença da comunidade LGBTQ+ na sua vida e na sua audiência é exatamente o que ele planejava, já que começou a produzir inspirado por artistas queer.


“Todo o meu círculo social é de pessoas LGBTQ+s e, para mim, isso é uma vitória, sei que meu som está no lugar certo”.



 
 
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