Vetor Entrevista: Jup do Bairro
- vetormagazine
- 20 de nov.
- 5 min de leitura
O “Juízo Final” de Jup do Bairro e a arte de se auto-celebrar: Ao longo das 15 faixas de seu novo projeto, a paulistana Jup do Bairro traz diferentes ritmos, sons e produções, mas, conta a história de um final que não é bem um fim, mas, um recomeço.
Entrevista por Pedro Paulo Furlan

Fotografia por Wallace Domingues
São Paulo, 10h. Uma das narrativas que perpassa “Juízo Final”, primeiro álbum de estúdio da cantora, compositora, atriz (e muito mais) Jup do Bairro, é a de uma personagem que passa por tanta luta e dificuldade que, quando vê-se no meio de uma festa, não consegue celebrar.
Quando sento para conversar com ela sobre o novo disco, a artista mesma toca nesse assunto - contando que até o nome do projeto é conectado a este conceito. “O fim, no final das contas, é só um novo começo”, aponta Jup, acrescentando: “Acredito que, para corpos marginalizados, às vezes esquecemos isso, então, espero que a gente possa começar a reconhecer esses momentos de celebração e se celebrar também”.
Ao longo das 15 faixas de “Juízo Final”, Jup do Bairro narra, da sua própria perspectiva, qual seria a trilha sonora desse fim do mundo. Mas, nas palavras da própria a artista, o tom não é um de desistência, e sim de recomeço - abraçando a realidade, e encontrando espaço para a sobrevivência e a celebração no meio desse “caos urbano”, como ela mesma diz.
O “Juízo Final” da metrópole
Paulistana de nascença, tendo nascido e crescido no Capão Redondo, berço do hip-hop em São Paulo, Jup afirma que o novo disco também serve como uma passagem pelo fim do mundo com a capital paulista como cenário. “A sensação é de que você está ouvindo numa atmosfera que ainda ruge, que tem suas ruínas, encantos e poluições”, aponta ela.

Fotografia por Wallace Domingues
Esse efeito é algo que vai além da poética, no entanto - foi algo amplamente discutido durante o processo de produção ao lado de FUSO!, que leva o crédito pela produção executiva do álbum. “Tem uma certa poeira, uma poluição que acompanha todo o disco”, afirma Jup, contando que descrevia assim para FUSO! a sonoridade que ela buscava para “Juízo Final.”
“Apesar de nós dois morarmos em São Paulo, nosso processo de criação é majoritariamente remoto, então precisamos descrever tudo da melhor maneira possível”, conta Jup do Bairro sobre trabalhar com o produtor, que é um dos maiores nomes da cena underground atual.
Ao longo desse processo, Jup entendeu que queria que o álbum soasse como uma caminhada por São Paulo de maneira completa, a São Paulo que ela conhece - a mescla de regiões, culturas e, mais importante para essa entrevista, de sons.
“Parece que você está caminhando por São Paulo. É como se você estivesse passando na Liberdade e estivesse tocando um brega, um rock doido em algum boteco. Passa pela Galeria do Rock, ouve um pouco de rock e daí você cai na Tokyo, tocando um funk mais pop - enfim, você tem todas essas experiências até chegar em casa.”
Com parcerias como a lendária banda de rock Black Pantera, a produtora Baby Plus Size, que já trabalhou com Liniker e Gaby Amarantos, e até o caçula de sua família, Jup explica que o álbum foi desenvolvido para soar o mais ela o possível.
“Sem querer soar piegas, mas o palco é muito sagrado”

Fotografia por Wallace Domingues
Nessa busca por ser o mais ela o possível, o apreço de Jup do Bairro pela teatralidade e pela performance é algo constantemente presente em “Juízo Final”. A cantora, que também é uma atriz exímia, incluiu momentos de monólogos, variações vocais e narrativas com começo, meio e fim em seu primeiro disco, criando um álbum que é também uma peça.
“Quando comecei a me direcionar artisticamente”, Jup me conta, quando pergunto para ela sobre seu apreço pelo palco: “Encontrei a magia que é o palco, e o trato como um local muito sagrado, de muito respeito”. Conectando-se ao conceito de fim do mundo, a multiartista acrescenta: “Para mim, talvez o palco seja onde eu consiga mais me conectar com o divino, se é que existe divino."
Um dos momentos que mais lembro do poder performático de Jup do Bairro, foi durante um set do duo Cyberkills - que produziram o remix hit “Descontrolada” de Pabllo Vittar e Jup. Quando a artista subiu ao palco, ela conseguiu silenciar a plateia e puxar a atenção do ambiente inteiro para ela - sua presença funciona como um imã, poder mais que perceptível em “Juízo Final.”
“Costumo dizer que o palco me salva. Atualmente, ouvimos música em um ambiente solitário, mas, quando você vai em um show… É o momento de ver a música da sua vida sendo performada, é justamente o que me salva todo dia.”
“Juízo Final” chega para isso - para encapsular todas essas Jups em um trabalho só. Trazendo uma mensagem de recomeço e sobrevivência, o álbum, que nasceu de um dos momentos mais escuros da vida da artista, é uma promessa de mudança pessoal e um convite para seu público passar por essa metamorfose com ela.
“Muitas vezes, eu olhava para cima como um pedido de ajuda, querendo entender eu mesma, o que eu queria fazer, como seguir em frente”, ela conta sobre esse momento, trazendo a perspectiva de uma artista independente tentando criar música no mundo de hoje: “Mas esse trabalho é onde eu me desnudo completamente e abro a todos essa que foi minha estratégia de sobrevivência."
Finalizando nossa conversa, voltamos ao conceito central de “Juízo Final”. Vendo Jup como esse eu lírico que esquece de se auto-celebrar, pergunto a ela se, nesse momento, após o lançamento de seu primeiro álbum, ela está conseguindo comemorar.
Primeiro, ela se emociona e pensa um pouco, admitindo que “acho que não, ainda não. Há tanto trabalho, tanta afirmação que a gente precisa para se validar, para minimamente ser notada, para sentir que o que a gente fez tenha sentido.”
Mas, é como Jup fala sobre o eu lírico do álbum, ela pode ser pessimista, mas, não é derrotista, então ela finaliza afirmando: “No momento, estou no lugar da repetição, da afirmação e de tentar viver da maneira que que faça sentido para mim. Então estou contando para que sim.”

Créditos do Editorial:
Direção Criativa: Gabe Lima e Jup do Bairro
Fotografia: Wallace Domingues
Ass. Fotografia: Rodarlen
Analógicas: Gustavo Vieira
Direção Executiva: Gabe Lima
Produção Executiva: Bia Bem
Direção de Arte: Roberth Augusto
Prod. de Arte: Gustavo Higino
Look: Visén
Beleza: Ictor
Cabelo: Sttefone
Locação: Estúdio Lâmina
Realização: Natura Musical


